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Singularidades

Sensacionalismo astronômico

O termo “astronômico” é frequentemente utilizado para se referir a coisas muito grandes, até exageradas ou terríveis. Uma “inflação astronômica”, por exemplo, como a que o Brasil viveu final da década de 1980 e o início da de 1990, é mesmo muito ruim.

Para a Educação, o chamado “sensacionalismo astronômico” também é medonho. Nesse caso, o termo é levado ao literalismo: são notícias relacionadas à Astronomia criadas para causar impacto. Elas são capazes de chocar a opinião pública, mas não têm qualquer preocupação em ser honestas.

Boatos e notícias falsas muitas vezes fingem ser divulgação científica. Fique atento!

A cor da Lua

Neste início de já temos uma delas. A que alardeia para um evento celeste triplo de tirar o fôlego: Superlua, Lua azul e Lua de sangue, tudo numa mesma noite.

Os títulos desses eventos já denunciam o problema. Eles provocam curiosidade (e isso é bom), mas também expectativas que não serão correspondidas (e isso é mau). Decepcionar o público é uma péssima maneira de fazer divulgação científica.

Vamos começar com a “Lua azul”. Uma tradução literal do termo original em inglês (Blue Moon) que simplesmente designa a segunda Lua Cheia que acontece num mês.

Geralmente só há uma Lua Cheia em cada mês, já que a lunação (o período entre duas fases iguais e consecutivas) é de 29 dias e meio, aproximadamente.

Blue Moon não quer dizer que a Lua vai realmente estar azul.

Mas se uma fase lunar qualquer acontece no começo de um mês de 31 dias, então é bastante provável que ela aconteça de novo no final desse mesmo mês. Quando essa fase é a Lua Cheia, então teremos duas delas naquele mês – e a segunda recebe a denominação Blue Moon.

E daí? O que ela tem de especial? Daí nada. É só isso. Se você quiser, pode chamar a segunda Lua Nova de um mês de Dark Moon, ou a segunda Minguante de Yellow Moon. Fique à vontade.

Janeiro de 2018 tem duas ocorrências de Lua Cheia. A segunda é chamada Blue Moon pelos norte-americanos. E isso nem é tão raro quanto pode parecer. Mesmo assim você pode mergulhar um pouco mais fundo nessa história. É até divertido saber como tudo começou. Deixamos um link abaixo para você aprender mais.

Sobre a Lua Azul
Era uma vez, numa Lua Azul… Era para ser um evento muito raro. E uma desculpa perfeita para se evitar o casamento! Descubra mais

Misturando as cores

O outro evento também fala da cor da Lua. Diz que a noite terá uma “Lua de sangue”. E isso faz qualquer pessoa curiosa pensar em qual o resultado da mistura entre o azul da Blue Moon e o vermelho sangue… Seria uma noite de Lua roxa?!

Não espere por isso. Vai se decepcionar. Lua de Sangue é outro termo cunhado para se referir a outra coisa: um eclipse total da Lua. E isso seria muito legal se esse eclipse fosse visível do Brasil. O que não é o caso… Para os brasileiros, o único eclipse lunar total de 2018 é o que acontece no início da noite de 27 de julho.

Mas – de novo – descobrir a história por trás desse tal “sangue da lua” nos leva a reviver uma aventura espetacular protagonizada por ninguém menos que Cristóvão Colombo na época em que o Brasil estava recém-descoberto.

O link está bem aqui:

Lua de Sangue
Aquela era a quarta viagem de Cristóvão Colombo. E se não fosse sua astúcia, poderia ter sido a última. Conheça essa história.

Enganando os olhos

Por fim, esta última noite de janeiro será coroada com uma “superlua”, que somada aos outros eventos deve resultar numa Lua Cheia enorme e roxa. Só que não… Superlua é um termo profundamente enganador.

“Uma afronta aos super-heróis”, disse um famoso astrofísico! Mas as tentativas dos astrônomos em desmistificar o fenômeno não parecem surtir bons resultados. Afinal, todo mundo prefere mesmo alguma coisa que é “super”.

Imagine que você saboreou, junto com bons amigos, uma pizza de 40 cm de diâmetro numa das festas do último fim de ano. Então, este ano, um desses amigos lhe convida para repetir o feito, desta vez com uma super pizza.

Você aceita, claro! Mas sem saber que essa pizza é apenas 1 cm maior – se tanto! É uma boa pizza assim mesmo. Mas foi exagero chama-la de “super”. Você só notaria a diferença se tivesse as duas lado a lado.

Bingo! É isso o que se trata a “superlua”. Mas lembre-se que nunca há duas Luas Cheias, uma “super” e outra “normal”, lado a lado no céu (talvez numa simulação num planetário), o que torna a tarefa de reconhecer uma “superlua” ainda mais frustrante. Aqui está outro link para você saber mais:

Lua no perigeu
Se você forçar a barra e desejar com muita força vai conseguir ver como ela está grande… Ah, fala sério! Eis o que você deve saber.

A bem da verdade, será frustrante a menos que você contemple a Lua nascendo no horizonte! Mesmo que não seja uma noite da tal “superlua”, quando ela surge sobre o horizonte geralmente a vemos surpreendentemente grande. Ali, pairando ainda pertinho do chão, qualquer Lua Cheia é realmente “super”.

Mas tudo não passa de uma ilusão! Uma ilusão poderosa, diga-se. E que certamente vale a pena descobrir um pouco mais no link abaixo.

A ilusão da Lua
Difícil acreditar que aquele disco prateado imenso pairando sobre o mar seja do mesmo tamanho que quando está no alto do céu. Saiba mais

Porque, no fim das contas, divulgar Ciência consiste justamente em inspirar as pessoas a apreciar a descoberta. A se interessar por conhecimento. A pensar. E a natureza já é suficientemente impressionante para que seja preciso atrair o olhar por meio de falsas expectativas. ■

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