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O Ano da Confusão

Antes de Júlio César tomar o poder para si, “declarando-se” imperador, ele já era figura de destaque na hierarquia romana. E, antes de prosseguirmos, chamo a atenção para as aspas da frase anterior… são necessárias, pois há uma controvérsia histórica se Júlio César tornou-se de fato imperador ou deve ser visto como um ditador militar.

Pois bem, antes de “se tornar” imperador, Júlio César era Sumo Pontíficie, título que hoje associamos ao Papa, mas que naqueles tempos pré Jesus Cristo (e, obviamente, pré-Igreja Católica) também estava associado à religião. Na prática, esta posição podia ser encarada como um “síndico com super-poderes”: alguém responsável por resolver todos os problemas dos cidadãos romanos. (O termo em si vem de “construtor de pontes”) E como Sumo Pontíficie, Júlio César já alimentava o desejo de reformar o calendário romano. Só não sabia como…

Em sua campanha militar pelo Egito, travou contato com o calendário local, e passou a admirá-lo. Mas antes de introduzir um novo método de contagem do tempo, ele precisava reconduzir as estações do ano aos seus lugares devidos. Sim, porque após séculos de abusos, as estações não mais se iniciavam quando deveriam. Na terminologia de meu artigo anterior, antes de consertar os trilhos, Júlio César precisava colocar o trem novamente de pé.

Fez isso de forma completamente arbitrária, criando o que conhecemos na cronologia como “Ano da Confusão”. O ano anterior ao da introdução do calendário juliano durou nada menos do que 445 dias, divididos em 15 meses! Basicamente, Júlio César tomou a decisão unilateral de postergar o início do novo ano, empurrando-o para frente até que as estações voltassem a se encaixar em seus meses esperados (por exemplo, a primavera em março).

Julio César acrescentou três meses àquele ano: Mercedonius (um mês que já existia antes, usado em esquemas de intercalação lunissolar) e dois meses conhecidos apenas como Intercalares I e II. E assim criou um ano único na história, o Ano da Confusão. ■

 

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